segunda-feira, 25 de maio de 2009

Mulher Da Vida

Gostava de saber por onde andas tu agora.
Conheci-te tinhas acabado de fazer os vinte anos. Estavas na flor da juventude, tão jovem, tão bela, tão dona de si mesmo que eu acabei por me prender a ti como se fosse a raiz de uma arvore que se agarra à terra. Por pouco não destruiste a minha vida. Quase que me afundaste no mar das incertezas com esse teu olhar fugoso que me fulminava o corpo. E eu, ardia. Ardia por dentro; e quanto mais ardia, mais queria arder. Estava como que enfeitiçado, fora de mim. Tu pussuias o dom de me revitalizar e parecer jovem, parecer ainda belo para os meus quarenta e sete anos de idade. Ainda hoje é um escandalo esta diferença de idades. Tu tens 25. Eu tenho 52. E continuo a desejar-te da mesma maneira, com o mesmo fulgor.
Não sei se ainda és uma prostituta. No meu intimo assim o desejo porque só assim me podes querer. De outra forma eu serei igual aos outros homens que não são teus clientes logo, insignificantes, e tu podes continuar a fingir que também me queres com a mesma intensidade. Se queres saber, ainda continuo casado com a mesma mulher que amo à 30 anos. No início, julguei que fosse uma crise de meia idade esta ânsia de procurar algo refrescante e jovial. Pensei que tinha que provar que era capaz de resistir ás intemperis das hormonas masculinas que, com a idade, se vão revelando cada vez mais escassas. A verdade é que ainda estou louco para te voltar a ver, embora cada dia que passa o Outono se torna mais revelante na minha calvice, nas minhas mão duridas, nas minhas rugas vividas. Mas é assim a lei da vida.
Passo todas as quartas-feiras, à mesma hora, no lugar onde me esperavas. Eu, dentro do carro, aguardava que tu, timidamente, entrasses e levava-te até um qualquer motel decante de Lisboa. Não me importava os sitios onde faziamos sexo. Não me importavam os preliminares, nem mesmo o acto sexual em si. O que eu mais gostava, o que eu tenho mesmo saudades, são dos momentos em que, embriagado na sede de te ter, atingia o extâse máximo do prazer, e no teu corpo jorrava um rio imenso de sémen como se tu fosses o caudal de um rio onde a água desagua e depois repousa. Eu, cansado e extasiado, adormecia sobre o teu corpo, o teu suor unia-se ao meu e deixava-me ali ficar, na tentativa de me manter são e de pertencer a outro jogo que não o da nua e crua realidade. Quando saía de perto de ti, tinha pena de te deixar, de não poder fugir contigo e tinha ciúmes... ciúmes de te entregar a outro desconhecido para uma outra viagem no escuro. Por outro lado, quando chegava a casa, tinha a certeza que ali era o meu lugar. Todas as quartas-feiras eu era o empreiteiro da minha vida que abria uma frecha no vazio, gozava as formas que lhe dava e, depois, como se de cimento se tratasse, voltava a fecha-la, para que não saisse magoado. A minha mulher lá estava à minha espera, como sempre.
Gostava de saber por onde andas e iria gostar de saber que estás feliz. Eu estou, à minha maneira. A felicidade oferece-se nos prazeres que nos são mais intímos, mais secretos. Eu tive a minha dose mas gostava de mais. Sinto a tua falta.
És uma mulher da vida. Sempre o foste e sempre o serás.
Pelo menos para mim.

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