terça-feira, 26 de maio de 2009

Fado

Tive um coração. Perdi-o. No tempo. Nos anos. Na vida. Tive um coração e com ele sabia o que era o amor. O amor que não se encontra nas brumas da escuridão. Aquele tipo de amor ao qual nos entregamos sem medo de perder a dignidade que nos resta. Esse tipo de amor que tu me deste e que tão longe o foste encerrar.
Se ainda estivesses em mim saberias onde se situava o meu coração. Umas vezes no peito, outras vezes na boca. Saberias com toda a certeza porque poderia dizer-te: amo-te, até que me mandasses calar. Até que os teus lábios se enlaçassem nos meus.
Que destino ou maldição me persegue?
Não sei. Sei que o corpo todo me doi. Sinto-me triste e cansado. Velho. E tudo se torna mais claro e evidente porque a vida é mesmo assim.
Tive um coração. Perdi-o. Por entre os dedos como se de cinzas se tratasse. Embora no peito ainda me tenha ficado este jeito de te querer tanto, foram-se os momentos. Ficaram as palavras.
Quem nasce malfadado melhor fado não terá mas, na verdade, ninguém sabe para o que nasce uma pessoa.
Nasce. Vive. Morre.
É simples.
Chorarei meu triste fado até estar exausto. E quando encontrar o meu coração perdido e ele não souber para onde for, peço-lhe que deixe de bater porque eu... eu não vou acompanhá-lo.
Nunca mais.

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