O telefone tocou e ele apressou-se a responder.
Do lado de lá da linha ela, sempre muito selecta nas palavras que dizia, combinou com ele ás sete e meia em ponto, na rotunda do Marquês de Pombal, e pediu para ele não se atrasar.
Ele desligou e rápidamente abriu o guarda fato para trocar de roupa. Qualquer coisa de casual, cumum, que o fizesse parecer um homem como tantos outros.
Ela pôs-se frente ao espelho, pegou no batôn vermelho sangue que estava em cima do armário e untou os lábios frescos com uma cor viva, quase berrante.
Ele saiu de casa e quase se esqueceu do relógio que estava em cima do micro-ondas. Pegou nos óculos de sol e ajeitou o colarinho da camisa de modo a tapar os pêlos do peito que ele odiava.
Ela vestiu um vestido preto, comprido, e pensou: "Com um vestido preto, eu nunca me comprometo". Depois esboçou um sorriso na cara fina e delicada, fechou a porta sem trancar a fechadura e desceu as escadas.
Primeiro, ele pensou em ir de carro. Mas entretanto, acabou por apanhar o metro. Eram só quatro estações.
Ela subiu a avenida e foi a pé.
Ele chegou eram sete e vinte seis. Estava ansioso. Nunca a tinha visto. Isto da Internet tem muito que se lhe diga. E se ela não era como lhe dissera. Se não fosse como ele a imaginasse?
Ela, enquanto calmamente subia a avenida, pensou que, se calhar, ele não era tão inteligente quanto parecia, tão bonito como dava a entender, se calhar passa por ele, e ele, desapontado, finge que nem a reconhece. Mas que importa? A adrenalina está no desconhecido e depois, muito secretamente, no improvável.
Sete e trinta e três. Ele começou a achar que ela não aparecia.
Ela chegou eram sete e trinta e oito minutos.
E, de repente...
Olharam-se.
Sorriram.
Perceberam quem era um e quem era o outro.
Ele aproximou-se dela.
Ela disse-lhe o nome e deu-lhe um beijo na face.
Ele perguntou:
- E então? Onde vamos jantar?
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