domingo, 6 de setembro de 2009

Agora

Eu sei que nada mais nos separa depois do dilúvio que nos consumou.
Conseguimos sobreviver a esta etapa feita de tantas coisas e de coisa nenhuma.
Fomos nós que bebemos todas as nossas mágoas.
Todas as lágrimas.
Sugámos todas as dúvidas que entretanto se tranformaram em certezas.
E das cinzas renasceu a Fénix.

O que nos resta agora?

... o que nos resta agora ...

... o olhar.


RF

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Sede de ti

Tenho sede de ti.
Quando as horas passam e não te vejo por perto.
Quando a noite calma me arrasta para o silêncio.
Tenho sede de ti.
Tenho sede de ti porque este amor arrebata-me por dentro e deixa o meu espirito como que a estremecer quando os meus pensamentos percorrem as tuas partes mais intimas, mais fogosas. Quero-te com tanta intensidade que sinto medo de mim mesmo. E quando este medo se torna trágicamente obsessivo, deito-me debaixo da chuva fria para atenuar as minhas directrizes que vão dar até ti.
Tenho sede de ti porque quero explorar cada desejo teu e entrar em ti, estar em ti, correr por ti. Mesmo quando não estás quero estar onde tu estás. Mesmo quando não te vejo quero ver com os teus olhos.
Isto parece-me indecente, sem escrúpulos. Mas não é assim o amor?
Claro que é assim. O amor e todas as suas sub-divisões: o desejo, a saudade, a felicidade, o ciúme... ah, o ciúme. Deixas-me louco. Completamente louco. Já não como, não durmo, não sinto. E um homem para viver precisa de sentir. Pelo menos, sentir-se vivo. E eu, meu ciúme, estou morto.
Tenho sede de ti porque procuro-te e não te encontro. Pareces invisivel (ou serei eu que estou invisivel?). Não sei de ti e quero saciar a minha sede. Já percorri todas as ruas, todas as avenidas, todas as praças e nada. Procuro por ti todos os segundos, todos os minutos, todas as horas, todos os dias, todos os anos e nada. Nada. Nada. Que farei agora? Deixarei, talvez, erguer diante dos meus olhos este ódio que começo a achar em mim e talvez te consiga dizer não. Não. Não. Coração. Não.
Não.
Não sou capaz.
Não sou capaz de te odiar.
Sou apenas uma pobre alma que ama e quer ser amado.
Sou incapaz de te magoar por mais vezes que queira.
Tenho sede de ti mas tudo o que me resta é um deserto.

terça-feira, 2 de junho de 2009

A "vangabunda" ou o texto mais parvo que já escrevi

Conheço uma "vagabunda".
Mas não é uma "vagabunda" qualquer.
É uma "vagabunda pecadora".
Esta minha "vagabunda" tem um quê de bairrista, um pouco de parvoice e um toque q.b. de aluada. No outro dia caiu no meio da rua, rasgando as meias pelo joelho, vejam bem...
A minha "vagabunda" tenta trabalhar mas só fala. Parece um gramofone. Ainda como se não bastasse fala alto, quase que berra, tentando impôr uma ideia que já outros tiveram anteriormente.
Não.
Não é loira.
É do mais moreno que há.
A minha "vagabunda" consome tempo a tentar vender produtos cosméticos como se fossem elixires da eterna juventude quando, na realidade, são feitos num quintal qualquer perto da barraca onde mora.
A "vagabunda" que vos falo está sempre numa dieta onde ninguém consegue ver resultados. Pudera! Sentada oito horas, a comer bolachas "Pingo Doce" com chocolate de leite, não há que fazer dieta. Não se pode.
De vez em quando, quando o Sol lá fora brilha em todo o seu esplendor, esta "vagabunda" come uns bagos de uva. Fruta. Frutinha da boa que faz bem à saúde.

Faz-me rir esta serigaita.

Na verdade, esta "vagabunda", é "vagabunda" mas eu até gosto dela.
É "vagabunda" só para quem a pode chamar tal nome.
Para os amigos.
Ela é alegre, viva, extasiante.
Bem disposta.
Faz-me vontade de querer rir de novo à gargalhada como à muito não o fazia.
Por isto e por muito mais:
3 vivas à "vagabunda" entre aspas.

Viva!
Viva!
Viva!

Para a N.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Ao ver-te ali, deitada...

Ao ver-te ali, deitada, naquela pedra de granito branca como a palidez mórbida do teu rosto, o meu corpo estremeceu ao pensar em tudo aquilo que te poderia ter dito e que, nos entretantos, calei em mim. Tu tiveste, mais do que qualquer outra mulher, o poder de encher de vida o sangue que corria nas minhas veias.
O sangue que corria só por correr.
Transformaste-me de uma maneira tal, que nem tu própria acreditas-te.
Eu mudei.
Tu mudas-te.
E o amor permaneceu.
Ao ver-te ali, deitada, serena, nesse leito onde repousas, eu tenho a certeza que fui o único homem que te roubou do dia, da noite. Da Lua, do Sol. Do Céu, do Inferno. Num acto egoista tu foste a minha carne, a minha pele, as minhas mãos, os meus olhos. Através de ti alcancei o inatingivel. Fui superior ao deus do meu próprio ego e orquestrei cada momento passado perto de ti. Fui as tuas palavras enquanto aprisionei as minhas. Fui a tua cama e de ti fiz o meu porto de abrigo. Quando me senti um ser menor, tornaste-me gigante e quando fui gigante tu fizeste-me ver que me querias mesmo sendo um grão de areia.
Ao ver-te ali, deitada, onde te quero deixar ficar para sempre, sei que já não serás mais a minha carne, a minha pele, as minhas mãos, os meus olhos. Sei que vou andar gasto e perdido. Sei que vou ser eu outra vez. E isso é o que mais me magoa.
Mas vou tentar não ter medo de enfrentar este mundo louco.
Ainda serei aquele que continuará a ter permissão para te auscultar no vento quando ele passar por mim, leve e solto. Vou sentir que serei ainda o teu deus para saciar o meu ego.
Continuarás em mim.
Pura.
Cristalina.
Sei que te vivi até ao último sopro de vida e, no entanto, tu continuas a ser vida em mim.
Por enquanto, meu grande amor, só te posso dizer:
Até já.
Dedicado à R.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Fado

Tive um coração. Perdi-o. No tempo. Nos anos. Na vida. Tive um coração e com ele sabia o que era o amor. O amor que não se encontra nas brumas da escuridão. Aquele tipo de amor ao qual nos entregamos sem medo de perder a dignidade que nos resta. Esse tipo de amor que tu me deste e que tão longe o foste encerrar.
Se ainda estivesses em mim saberias onde se situava o meu coração. Umas vezes no peito, outras vezes na boca. Saberias com toda a certeza porque poderia dizer-te: amo-te, até que me mandasses calar. Até que os teus lábios se enlaçassem nos meus.
Que destino ou maldição me persegue?
Não sei. Sei que o corpo todo me doi. Sinto-me triste e cansado. Velho. E tudo se torna mais claro e evidente porque a vida é mesmo assim.
Tive um coração. Perdi-o. Por entre os dedos como se de cinzas se tratasse. Embora no peito ainda me tenha ficado este jeito de te querer tanto, foram-se os momentos. Ficaram as palavras.
Quem nasce malfadado melhor fado não terá mas, na verdade, ninguém sabe para o que nasce uma pessoa.
Nasce. Vive. Morre.
É simples.
Chorarei meu triste fado até estar exausto. E quando encontrar o meu coração perdido e ele não souber para onde for, peço-lhe que deixe de bater porque eu... eu não vou acompanhá-lo.
Nunca mais.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Mulher Da Vida

Gostava de saber por onde andas tu agora.
Conheci-te tinhas acabado de fazer os vinte anos. Estavas na flor da juventude, tão jovem, tão bela, tão dona de si mesmo que eu acabei por me prender a ti como se fosse a raiz de uma arvore que se agarra à terra. Por pouco não destruiste a minha vida. Quase que me afundaste no mar das incertezas com esse teu olhar fugoso que me fulminava o corpo. E eu, ardia. Ardia por dentro; e quanto mais ardia, mais queria arder. Estava como que enfeitiçado, fora de mim. Tu pussuias o dom de me revitalizar e parecer jovem, parecer ainda belo para os meus quarenta e sete anos de idade. Ainda hoje é um escandalo esta diferença de idades. Tu tens 25. Eu tenho 52. E continuo a desejar-te da mesma maneira, com o mesmo fulgor.
Não sei se ainda és uma prostituta. No meu intimo assim o desejo porque só assim me podes querer. De outra forma eu serei igual aos outros homens que não são teus clientes logo, insignificantes, e tu podes continuar a fingir que também me queres com a mesma intensidade. Se queres saber, ainda continuo casado com a mesma mulher que amo à 30 anos. No início, julguei que fosse uma crise de meia idade esta ânsia de procurar algo refrescante e jovial. Pensei que tinha que provar que era capaz de resistir ás intemperis das hormonas masculinas que, com a idade, se vão revelando cada vez mais escassas. A verdade é que ainda estou louco para te voltar a ver, embora cada dia que passa o Outono se torna mais revelante na minha calvice, nas minhas mão duridas, nas minhas rugas vividas. Mas é assim a lei da vida.
Passo todas as quartas-feiras, à mesma hora, no lugar onde me esperavas. Eu, dentro do carro, aguardava que tu, timidamente, entrasses e levava-te até um qualquer motel decante de Lisboa. Não me importava os sitios onde faziamos sexo. Não me importavam os preliminares, nem mesmo o acto sexual em si. O que eu mais gostava, o que eu tenho mesmo saudades, são dos momentos em que, embriagado na sede de te ter, atingia o extâse máximo do prazer, e no teu corpo jorrava um rio imenso de sémen como se tu fosses o caudal de um rio onde a água desagua e depois repousa. Eu, cansado e extasiado, adormecia sobre o teu corpo, o teu suor unia-se ao meu e deixava-me ali ficar, na tentativa de me manter são e de pertencer a outro jogo que não o da nua e crua realidade. Quando saía de perto de ti, tinha pena de te deixar, de não poder fugir contigo e tinha ciúmes... ciúmes de te entregar a outro desconhecido para uma outra viagem no escuro. Por outro lado, quando chegava a casa, tinha a certeza que ali era o meu lugar. Todas as quartas-feiras eu era o empreiteiro da minha vida que abria uma frecha no vazio, gozava as formas que lhe dava e, depois, como se de cimento se tratasse, voltava a fecha-la, para que não saisse magoado. A minha mulher lá estava à minha espera, como sempre.
Gostava de saber por onde andas e iria gostar de saber que estás feliz. Eu estou, à minha maneira. A felicidade oferece-se nos prazeres que nos são mais intímos, mais secretos. Eu tive a minha dose mas gostava de mais. Sinto a tua falta.
És uma mulher da vida. Sempre o foste e sempre o serás.
Pelo menos para mim.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

O Encontro (segundo uma história muito provável)

O telefone tocou e ele apressou-se a responder.

Do lado de lá da linha ela, sempre muito selecta nas palavras que dizia, combinou com ele ás sete e meia em ponto, na rotunda do Marquês de Pombal, e pediu para ele não se atrasar.

Ele desligou e rápidamente abriu o guarda fato para trocar de roupa. Qualquer coisa de casual, cumum, que o fizesse parecer um homem como tantos outros.

Ela pôs-se frente ao espelho, pegou no batôn vermelho sangue que estava em cima do armário e untou os lábios frescos com uma cor viva, quase berrante.

Ele saiu de casa e quase se esqueceu do relógio que estava em cima do micro-ondas. Pegou nos óculos de sol e ajeitou o colarinho da camisa de modo a tapar os pêlos do peito que ele odiava.

Ela vestiu um vestido preto, comprido, e pensou: "Com um vestido preto, eu nunca me comprometo". Depois esboçou um sorriso na cara fina e delicada, fechou a porta sem trancar a fechadura e desceu as escadas.

Primeiro, ele pensou em ir de carro. Mas entretanto, acabou por apanhar o metro. Eram só quatro estações.

Ela subiu a avenida e foi a pé.

Ele chegou eram sete e vinte seis. Estava ansioso. Nunca a tinha visto. Isto da Internet tem muito que se lhe diga. E se ela não era como lhe dissera. Se não fosse como ele a imaginasse?

Ela, enquanto calmamente subia a avenida, pensou que, se calhar, ele não era tão inteligente quanto parecia, tão bonito como dava a entender, se calhar passa por ele, e ele, desapontado, finge que nem a reconhece. Mas que importa? A adrenalina está no desconhecido e depois, muito secretamente, no improvável.

Sete e trinta e três. Ele começou a achar que ela não aparecia.

Ela chegou eram sete e trinta e oito minutos.

E, de repente...
Olharam-se.
Sorriram.
Perceberam quem era um e quem era o outro.

Ele aproximou-se dela.

Ela disse-lhe o nome e deu-lhe um beijo na face.

Ele perguntou:

- E então? Onde vamos jantar?

Esta Noite Vôo Para Junto De Ti

Esta noite vôo para junto de ti.
Apetece-me estar nos teus braços enquanto um Jobim toca no gira-discos. Quero estar contigo porque me apetece e porque é necessário. Extremamente necessário. Vou voar para junto de ti para sentir o teu corpo contra o meu e poder sentir o toque vibrante da tua pele rompendo contra a minha. Tu és assim e sempre serás: uma rebelde constante. E eu... eu gosto dessa tua rebeldia porque muito fácilmente me torno uma presa. Abrigo-me no teu porto e, de repente, as tuas garras fincam a minha carne e deixo-me levar.
Esta noite vôo para junto de ti.
Vou por entre a noite, rasgando o céu e com a certeza de que me vais aceitar porque eu sofro por ti, eu quebro-me por ti, eu morro por ti. E tu... tu sabes isso. Se eu te contar as vezes que ando por Lisboa, à solta, sem rumo, nem vais acreditar. Penso no que fomos, no que somos e naquilo em que nos vamos tornar e a única certeza a que chego é que eu não quero ser esse mendigo da solidão. No entanto, corro para ti com o intuito de alimentar a minha cega esperança. Chego á conclusão que não são as tuas unhas afiadas que me magoam. Aquilo que me fere é muito maior que isso. É o teu desdém.
E ainda assim vôo para ti todas as noites.
Esta noite vôo para junto de ti apesar de não ser o Jobim que vai tocar no gira discos. Isso eu sei. E põe-me triste. Pensares que estás viva, sozinha e feliz. Não te enganes. Esta noite vou para perto de ti para te dizer a cruel verdade sobre as coisas do coração. Sobre aquilo a que os outros chamam de amor.
Sei que vou encontrar outro albúm no teu gira discos e mesmo assim estarei contigo. Sei que vou atrás de ti, tu atrás de outro e esse outro atrás de alguém. E ainda assim estarei contigo. Sei que não são os meus problemas que desta vez vais querer fazer parte e ainda assim, hipotéticamente ou não, estarei contigo.
Porque eu, meu grande amor, sou a única pessoa com quem podes contar.