domingo, 25 de abril de 2010

Fico por aqui

Deixa-me ficar por aqui.
Sinto-me cansado e sombrio.
Estou de luto e de luto ficarei até o regresso das palavras que me abandonaram.
Deixa-me ficar por aqui porque eu sei que aqui estou bem.
Não te quero ouvir falar do pecado, do amor, da alma.
Não te quero sentir nem esquecer
Mas também não te quero perdoar.
Não me quero curvar perante a alegria recolhida em teu peito.
E sugar toda essa tua vontade louca de viver.
Não quero.

Deixa-me ficar por aqui porque hoje não quero estar noutro lugar.
Quero acorrentar-me a esta tempestade e aguardar que ela passe por mim.
Que percorra o meu corpo e rebente em minhas veias.
Quero que tu saibas aquilo que eu quero e que a mais nada sou obrigado.
Deixa-me ficar aqui para encontrar uma luz.
Não pretendo a salvação. Não quero ser absolvido.
Não quero o passado e receio o futuro.
Apenas quero estar no presente.

Desculpa
mas hoje fico por aqui.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Nunca Mais

Quando eu te disser em segredo
Que o meu amor é um brinquedo
Não leves tanto a peito
Porque ás vezes um grande amor
É pior quando encontra a dor
E deixa o coração desfeito.

Quando eu te disser para sempre
Tenta ficar indiferente
Porque existe sempre um fim
Para quê te digo então
Se comigo ficará só a solidão
E uma lembrança de ti.

Por agora eu quero
Os silêncios que me dás
As tuas mãos que me entrelaçam
Nestes espaços intemporais.
Se desespero eu não quero
Não quero que te vás
Mas há palavras que nos arrasam
Como dizeres: nunca mais

Quando entretanto o mar se agitar
E o sol não quiser doirar
E cada um seguir o seu caminho
Não te arrastes nessa tempestade
Deixa-me andar por esta cidade
Que eu ficarei bem sozinho

quinta-feira, 15 de abril de 2010

agarra-me

agarra-me ao teu corpo mas não agarres as minhas mãos.
elas querem tocar-te, querem sentir-te.
agarra-me ao teu corpo mas nao agarres as palavras porque todas as palavras são mentira.
só tu, meu grande amor és real. tu e esses teus olhos.
agarra-me para que eu seja uma música do Ennio na tua pele macia.
lembras-te do Cinema Paraiso?
sim, eu sei... essas histórias de amor já não existem mas vale a pena tentar encontrá-las por ai.
agarra-me e liberta-te da minha vida enquanto a vida ainda é tua
porque depois pode ser tarde demais
depois podemos já não existir.
agarra-me para que eu não fique desfeito em pó.
agarra-me para que possamos agarrar o amanhecer e sentir o calor a escorregar por entre os dedos.
agarra-me e não me deixes cair.
agarra-me, não me soltes.
agarra-me...

agarra-me para que eu não desista
nunca

RF

Terra de ninguém

Tu és terra de ninguém.
Não és mar, não és deserto.
És um corpo em movimento, desalinhado, á procura de carinho.
Quando foges andas por ai á procura de qualquer coisa.
Qualquer coisa que preencha essa tua terra.

Dos meus braços fazes a tua casa, do meu corpo um caminho sereno, da minha boca uma fonte de água, dos meus cabelos um sol e uma lua.
E então descobres que não fomos feitos para ficarmos sós.
Nós não estamos sós.

Descobres que, contra tudo aquilo que previas, não são os outros que têm que mudar e sentes, pela primeira vez, o coração frio.
De repente, procuras a sinfonia perfeita para a palidez de uma vida e, dás-te conta, que não existem pautas para ler e que a melodia torna-se desconcertante.
É tudo improvisado.

Tu és terra de ninguém porque não queres que ninguém te pertença.
É legitimo mas não deixa de ser vago.

Só te peço que nunca me traias.
Não estou a falar da traição indigna dos amantes.
Falo-te na pior traição de um ser humano.
A mentira.

Mesmo quando se é terra de ninguém.

RF

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Amo-te


Amo-te com a minha própria vida.

A ferro e fogo como ninguém.

Amo-te como se arde por dentro

Como a ferida mais profunda que magoa.


Amo-te uma, cem, mil vezes

E se morrer amo-te de novo.


Amo-te demasiado.

A tempo inteiro como nunca amei ninguém.


Como uma ave que regressa ao ninho.

Eu regresso sempre a ti.

Aos teus braços que me amarram a este cais de solidão.


Amo-te com a minha força para continuar

Amo-te com a minha garganta que se desdobra na minha voz.

Amo-te tanto.


Amo-te demais.


E ainda assim,

acho que te amo tão pouco.


terça-feira, 6 de abril de 2010

De Mim

Vou falar te de mim porque sim, porque quero.

Porque quando não desespero não me tenho por certo.

Porque falo e sou a voz em mim
Sou como um sentimento
Que como outro qualquer sentimento tem fim.

Porque me quero tanto como se quer o bem
E quando me tenho bem quero-me bem mal
Quem sou eu afinal?

Aquele que quando cala tudo diz,
Por vezes descontente,
Muitas vezes infeliz
Mas sempre, sempre
Saciado.