segunda-feira, 1 de junho de 2009

Ao ver-te ali, deitada...

Ao ver-te ali, deitada, naquela pedra de granito branca como a palidez mórbida do teu rosto, o meu corpo estremeceu ao pensar em tudo aquilo que te poderia ter dito e que, nos entretantos, calei em mim. Tu tiveste, mais do que qualquer outra mulher, o poder de encher de vida o sangue que corria nas minhas veias.
O sangue que corria só por correr.
Transformaste-me de uma maneira tal, que nem tu própria acreditas-te.
Eu mudei.
Tu mudas-te.
E o amor permaneceu.
Ao ver-te ali, deitada, serena, nesse leito onde repousas, eu tenho a certeza que fui o único homem que te roubou do dia, da noite. Da Lua, do Sol. Do Céu, do Inferno. Num acto egoista tu foste a minha carne, a minha pele, as minhas mãos, os meus olhos. Através de ti alcancei o inatingivel. Fui superior ao deus do meu próprio ego e orquestrei cada momento passado perto de ti. Fui as tuas palavras enquanto aprisionei as minhas. Fui a tua cama e de ti fiz o meu porto de abrigo. Quando me senti um ser menor, tornaste-me gigante e quando fui gigante tu fizeste-me ver que me querias mesmo sendo um grão de areia.
Ao ver-te ali, deitada, onde te quero deixar ficar para sempre, sei que já não serás mais a minha carne, a minha pele, as minhas mãos, os meus olhos. Sei que vou andar gasto e perdido. Sei que vou ser eu outra vez. E isso é o que mais me magoa.
Mas vou tentar não ter medo de enfrentar este mundo louco.
Ainda serei aquele que continuará a ter permissão para te auscultar no vento quando ele passar por mim, leve e solto. Vou sentir que serei ainda o teu deus para saciar o meu ego.
Continuarás em mim.
Pura.
Cristalina.
Sei que te vivi até ao último sopro de vida e, no entanto, tu continuas a ser vida em mim.
Por enquanto, meu grande amor, só te posso dizer:
Até já.
Dedicado à R.

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